30 de out. de 2009

ORGANIZAÇÃO DO TEMPO PEDAGÓGICO E O PLANEJAMENTO DO ENSINO

ORGANIZAÇÃO DO TEMPO PEDAGÓGICO E O PLANEJAMENTO DO ENSINO

Percebe-se que com o desenvolvimento cada vez maior das ciências da educação, é natural que os métodos também passem a ser afetados pelos novos conhecimentos que se adquirem dia-a-dia a respeito do ensino da Língua Portuguesa. Além disso, os próprios métodos ganham cada vez maior sofisticação, à medida que passam a serem equacionados em termos de globalização.
Nesta perspectiva, a questão da democratização do aprendizado da língua enquanto proposta de educar cidadãos competentes, deve ser abordada por metodologias que enfatizem um trabalho dialético fomentado na investigação da realidade, delimitando suas particularidades, na proposição das finalidades estratégicas que condicionam a aplicação dessas atividades e, na organização dos instrumentos viáveis ao alcance dimensional amplo da interação disciplinar entre os indivíduos da comunidade escolar.
Em primeira instância, cabe à escola organizar um conjunto de atividades que, progressivamente, possibilite ao aluno compreender seus direitos e deveres civis e sociais; perceber-se como agente transformador do ambiente; desenvolver uma confiança em suas capacidades e especialmente reconhecer que tem condições de desenvolver as competências e habilidades lingüísticas viáveis à sua participação e integração no mundo social. Para tanto, o ensino de Língua Portuguesa merece atenção especial quanto à questão dos procedimentos metodológicos, uma vez que eles influenciam diretamente na formação do aluno enquanto cidadão.
É oportuno salientar que as diretrizes apontadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN visam integrar o aluno no mundo global em que vive e não em exclui-lo. Por isso, o processo de ensino-aprendizagem deve partir de atividades significativas para o aluno, possibilitando-lhe aprender mais sobre si mesmo e sobre um mundo globalizado, marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social.
Em suma, o fascículo revela a preocupação com a organização do dia a dia em sala de aula, relatando que todas atividades são necessárias de formas abrangentes, pois todas fazem partes do processo de aprendizagem, e fundamenta que a leitura é essencial para a construção deste processo, onde uma rotina para a leitura seria o mais indicado para cultivar o hábito em todos.
Nesse sentido, o ensino da leitura e da escrita não pode continuar sendo preconizado por programas educacionais discriminatórios, seletivos e autoritários, mas deve-se ao contrário privilegiar o texto como unidade de ensino, entendendo-o muito mais do que uma aglomeração de frases ou um objeto de correções gramaticais.
Na visão de Soares e Rocha[1], ler e escrever são atos indissociáveis, interligados reciprocamente na tarefa de difundir o conhecimento. Quem lê com freqüência não apresenta dificuldades para escrever e ler não significa apenas decodificar letras, sílabas, frases e orações como processos estagnados na formação do texto. Ao contrário o ato de ler pressupõe crítica, movimento na acepção de entender o sentido do texto em seu contexto.
O objeto de ensino e, portanto, de aprendizagem é o conhecimento lingüístico e discursivo com o qual o sujeito opera ao participar das práticas sociais mediadas pela linguagem. Organizar situações de aprendizado, nessa perspectiva supõe: planejar situações de interação quais esses conhecimentos sejam construídos e/ou tematizados; organizar atividades que procurem recriar na sala de aula situações enunciativas de outros espaços que não o escolar, considerando-se sua especificidade e, a inevitável transposição didática que o conteúdo sofrerá, saber que a escola é um espaço, de interação social onde práticas sociais de linguagem acontecem e se circunstanciam, assumindo características bastante específicas em função de sua finalidade; o ensino.[2]

O ensino da língua materna na escola fundamental deve tornar o aluno um usuário eficiente da língua: sabendo expressar-se adequadamente em diferentes situações fazendo-se entender, sendo capaz do ouvir o outro; lendo por prazer e para informar-se seguindo instruções escritas, percebendo a intencionalidade dos textos etc.; escrevendo por prazer para registrar, instruir, convencer; sendo capaz de decidir, ao fazê-lo que tipo de texto e que recursos lingüísticos usar para melhor atingir suas finalidades; refletindo sobre a língua, trabalhando os aspectos de organização que comprometem a clareza, coerência e coesão de seus textos bem como os aspectos gramaticais que constituem dificuldades no uso da modalidade escrita da língua culta.
Para tanto, o professor precisa criar situações em que o falar o ler e o escrever, longe de consistir em exercícios mecânicos e obrigações burocráticas sejam organizados na forma de projetos de leitura e escrita, trabalhando as diversas facetas dos textos como instrumentos de comunicação.
Levar o aluno a se tornar autor dos próprios textos é tarefa que a área de Língua Portuguesa assume na dimensão da formação da cidadania, uma vez que produzir textos, desejar criar e expressar-se é tarefa imprescindível na democratização do sistema escolar e do contexto social, sendo por isso necessário propiciar a criação de texto como instrução de comunicação e de negociação da vida social em relação à estruturação de idéias, à manifestação da identidade e do pensamento, permitindo, sobretudo, o desenvolvimento do aluno por meio de diversas situações de interação.
Portanto, o objetivo de qualquer atividade didático-pedagógica deve ser a de favorecer a reflexão dos alunos sobre o sistema alfabético de escrita por meio da leitura de textos. Isso também significa oferecer a criança à oportunidade de exercer a escrita segundo suas idéias, de pôr em jogo o que pensa sobre a escrita. Importa também criar condições para que o uso da língua materna se paute em situações contextualizadas, próximas das situações sócio-comunicativas em que o aluno participa em seu cotidiano. Somente nesse sentido, a educação estará caminhando, de fato, para a formação de cidadãos e usuários competentes da língua.




[1] SOARES, Magda; ROCHA, Gladys. Português: uma proposta para o letramento - alfabetização. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1999.
[2] BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998 p. 22.

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