Por: Vanderli Cássia Spredemann
Acessando o site da UnB/Cespe, e verificando o concursos abertos, fiquei anestesiada com o edital do concurso da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, que refere-se ao cargo de Técnico Administrativo a nível médio com as seguintes atribuições: exercício de atividades administrativas e logísticas de nível intermediário relativas ao exercício das competências constitucionais e legais do cargo da ANEEL, com remuneração inicial de R$ 4.548,47, jornada de 40 horas semanais.
Querem saber o que me deixou chocada e decepcionada é que o serviço de profissionais com ensino médio e para trabalhar com arquivamento de papéis, e outros procedimentos administrativos seja mais importante que o meu, como educadora.
Senti vergonha de ser educadora no Brasil, com um piso salarial de R$ 950,00 com a mesma carga horária semanal. O que deixou mais chocada foi pensar que trabalhar com papéis e máquinas tecnológicas seja mais importante que educar seres humanos!
Realmente não entendo como certas revistas e edições educacionais conseguem ter a coragem de questionar qualquer índice de qualidade do ensino, considerando que somos os profissionais mais desvalorizados do Brasil.
De fato, o índice de qualidade da educação no Brasil é vergonhoso, mas justos aos salários que nos pagam, uma vez que a tão e famosa formação profissional usada como justificativa dessa falta de qualidade, não seja de fato fundamental para a garantia de uma educação verdadeiramente significativa e formadora de cidadãos críticos e participativos na sociedade.
Acredito que a qualidade de ensino no Brasil vai além do compromisso e qualificação dos profissionais. Estamos falando de seres humanos que educam seres humanos e de um trabalho que envolve emoção, ação, reflexão e construção da cidadania e garantia de direitos.
Isso significa, salas de aulas com menor números de alunos, evitando a superlotação, materiais didáticos disponíveis, evitando desvio e desperdícios, equipamentos e suprimentos em mãos, qualificação além do blá, blá, blá... e o faz de conta para cumprir metas e gastar recursos. Uma fiscalização adequada e honesta diante dos recursos disponibilizados para a educação. Uma maior atenção diante das retalhações e punições injustas aos profissionais críticos e que verdadeiramente e utopicamente sonham e almejam uma educação mais humanizada e digna.
O que se vê são profissionais que só sabem se queixar, tudo é péssimo, tudo é difícil, nada adianta, e sempre os culpados são o sistema, os políticos, os alunos...etc. Sempre defendi a idéia que precisamos ir além das indignações e exercer o nosso papel social e fazer a diferença. Temos muitos profissionais com o perfil citado acima como em qualquer outra profissão. Mas, temos profissionais que se preocupam e merecem reconhecimento e condições dignas de trabalho. Que lutam e batalham por uma educação de qualidade.
Uso como exemplo o meu profissional, tenho apenas o ensino técnico em Magistério e busco melhorias para educação porque acredito na minha prática pedagógica. Diante do fato de ter apenas 2 anos e 10 meses que assumi o concurso público Municipal de Formosa/GO e já ganhei um prêmio com minha experiência pedagógica no Programa Agrinho com o Projeto em defesa ao meio ambiente e que faço a diferença em sala de aula.
Diferente de muitos profissionais da educação, não trabalho para pagar uma escola particular para meus filhos, pelo simples fato de acreditar em minha prática pedagógica e valorizar meu trabalho.
Se todos os profissionais da educação da rede pública em nosso País ministrassem a prática pedagógica que pagam para que eduquem seus filhos na rede privada, o ensino nas escolas públicas teria níveis altíssimos de qualidade no IDEB e as escolas particulares iriam à falência.
Considerando que a educação assim como a saúde é um direito de todos, deveriam ser a mais valorizadas prestações de serviços do Brasil, uma vez que as duas áreas atendem e desenvolvem garantias de direitos expressos na Constituição Brasileira e trabalham diretamente com vidas humanas.
Considero a formação dos docentes essencial e fundamental, mas não como ferramenta principal para a promoção de uma educação de qualidade, que vai além da coleção de diplomas e certificados dos profissionais.
É preciso e necessário, portanto, uma mudança na concepção do papel dos docentes na atual conjuntura social para a valorização desse papel.
E a percepção da importância desse papel para a fundamentação e promoção de uma educação mais humanizada desenvolvida na totalidade da evolução humana.
Não somos transmissores de conhecimento, para isso temos livros, revistas, internet e outros meios de comunicação em geral. Somos construtores de uma sociedade consciente e justa, que por meio do diálogo fundamenta e fórmula coletivamente a construção da igualdade em respeito à diversidade.
Em suma, os profissionais em educação precisam compreender que a função e o papel social da escola vão além do ensinar/aprender. Estamos falando de pessoas e construção de identidade social, cultural, política, econômica e religiosa, por meio de fundamentos filosóficos e psicológicos que constroem e formam o individuo em cidadão que por si desenvolve papéis em cada ambiente social. E esse processo de desenvolvimentos de papéis que influenciam no resultado social e na construção ou formação de cidadãos críticos e autônomos, ou alienados súditos obedientes permissíveis.
Portanto, tem muito a ser mudado na educação. E principalmente na valorização dos profissionais que atendem essa área, uma vez que lidamos com a construção e formação de identidade sociocultural de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres na sociedade como agentes participativos e co-autores de sua história e de uma nação.