Conforme, as pesquisas realizadas nas atividades propostas por neste módulo, contata-se que a arte faz parte do cotidiano do homem desde o início dos temos, como podemos verificar nos PCN’s:
“Desde o início da história da humanidade, a arte tem se mostrado uma práxis presente em todas as manifestações culturais. A aprendizagem e o ensino da arte sempre existiram e se transformaram, ao longo da história, de acordo com as normas e valores estabelecidos, em diferentes ambientes culturais. Não faz parte das intenções deste documento ter a pretensão de discorrer sobre todas as transformações ocorridas. Entretanto, aconselha-se ao leitor um aprofundamento em relação à história do ensino de arte.
No século XX, a área de Arte acompanha e se fundamenta nas transformações educacionais, artísticas, estéticas e culturais. As pesquisas desenvolvidas a partir do início do século em vários campos das ciências humanas trouxeram dados importantes sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente, sobre o processo criador, sobre a arte de outras culturas. Na confluência da antropologia, da Filosofia, da Psicologia, da Psicanálise, da crítica de arte, da Psicopedagogia e das tendências estéticas da modernidade, surgiram autores que formularam os princípios inovadores para o ensino de linguagens artísticas. Tais princípios reconheciam a arte da criança como manifestação espontânea e auto-expressiva: valorizavam a livre expressão e sensibilização para a experimentação artística como orientações que visavam ao desenvolvimento do potencial criador, ou seja, eram propostas centradas na questão do desenvolvimento do aluno.
É importante salientar que tais orientações trouxeram uma contribuição inegável para a valorização da produção criadora da criança e do jovem, o que não ocorria na escola tradicional. Mas o princípio revolucionário que advoga a todos, independentemente de talentos especiais, a necessidade e a capacidade da expressão artística, foi aos poucos sendo enquadrado em palavras de ordem, como “o que importa é o processo criador da criança e não o produto que realiza” e “aprender a fazer, fazendo”. Esses e muitos outros lemas foram aplicados mecanicamente nas escolas, gerando deformações e simplificações na idéia original, o que redundou na banalização do “deixar fazer”, ou seja, deixar o aluno fazer arte, sem nenhum tipo de intervenção.
Ao professor, destinava-se um papel cada vez maior relevante e passivo. A ele não cabia ensinar nada e arte adulta deveria ser mantida fora dos muros da escola, pelo perigo da influência que poderia macular a “genuína e espontânea expressão infantil”.
O princípio da livre expressão enraizou-se e espalhou-se pelas escolas. O conceito da criatividade tornou-se presença obrigatória nos planejamentos de Teatro, Artes Plásticas e Educação Musical.
O objetivo fundamental era facilitar o desenvolvimento criador. No entanto, o que se desencadeou como resultado da aplicação indiscriminada de idéias vagas e imprecisas sobre a função da educação artística foi uma descaracterização progressista da área. Tal estrutura conceitual foi perdendo o sentido, principalmente para os alunos. Além disso, muito dos objetivos arrolados nos planejamentos dos professores de arte poderiam também compor outras disciplinas do currículo, como desenvolver a criatividade, a sensibilidade, o autocontrole, etc.
Na entrada da década de 60, houve uma reorientação de pensamento sobre o ensino das artes em centros norte-americanos e europeus, questionando basicamente a idéia do desenvolvimento espontâneo na expressão artística, procurando definir a contribuição específica da arte para a educação do ser humano.
A reflexão que inaugurou uma nova tendência, cujo objetivo era precisar o fenômeno artístico cujo conteúdo curricular, articulou-se em um duplo movimento: por um lado à reorientação da livre expressão; por outro, a investigação da natureza da arte como forma de conhecimento.
Como em todos os momentos históricos, os anos 60 trouxeram práticas em educação, psicologia e arte estreitamente vinculados às tendências do pensamento da época, que progressivamente contribuíram para uma transformação das práticas Educativas de arte no mundo, questionando a aprendizagem artística como conseqüência natural apenas do processo de desenvolvimento do aluno.
No início da década de 70, autores responsáveis pela mudança de rumo de ensino de arte nos Estados Unidos afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado de formas complexas de aprendizagem por meio de instrução. Segundo esses autores, as habilidades artísticas se desenvolvem pelas questões que se apresentam ao aluno no decorrer de suas experiências de buscar meios para transformar idéias, sentimentos e imagens em um objeto material. Tal experiência pode ser orientada pelo professor e nisso consiste sua contribuição para a educação no campo da arte.
Atualmente, muitos professores se preocupam em responder as perguntas básicas que fundamentam sua atividade pedagógica. “Que tipo de conhecimento caracteriza a arte-educação”? “Qual a função da arte do teatro na sociedade”? “Como as contribuições da arte podem ser significativas e vivas dentro da escola”? e “Como se aprende a criar, experimentar e entender a arte e qual a função do professor nesse processo”?.
As tendências que se manifestaram no ensino de arte a partir dessas perguntas geraram a necessidade de estabelecimento de um quadro de referências conceituais solidamente fundamentado dentro do currículo escolar, focalizando a especificidade da área e definindo seus contornos com base nas características inerentes ao fenômeno artístico” (BRASIL, PCN’s, 1998, p.19-22) .
Para que se compreenda o ensino de Arte hoje, é necessário que se conheça como se deu o seu início e com que postura e com que objetivos ele tem sido trabalhado na escola até os dias de hoje.
De acordo com Brito (2004) é possível distinguir várias fases no ensino de Arte, tais como:
“[...] enfoque na cópia de modelos, valorizando a perfeição do produto final; enfoque na auto-expressão e no espontaneísmo, abolindo totalmente a visão anterior; enfoque na técnica e no uso de materiais diversos; junção de enfoques e metodologias anteriores; e, a mais atual, que reúne no ensino de Arte, a análise e crítica de obras de Arte, a história da Arte e a produção de trabalhos artísticos, não deixando de lado a estética do cotidiano”.
Importa salientar que, num primeiro momento, o ensino de Arte tinha como pressuposto enfocar conteúdos sobre noções de forma, cor, proporção, luz e sombra, entre outros; pouco, ou quase nada, se incentivava a criatividade do aluno, o trabalho se baseava na cópia. Sob a influência da pedagogia tradicional, no ensino de Arte valorizava-se a estética mimética, com o emprego de cópia de modelos, da educação da visão e da coordenação motora, em exercícios desvinculados do processo histórico cultural.
O legado dessa perspectiva tradicional do ensino de Arte ainda é marcante em algumas escolas brasileiras, tendo em vista que essa concepção influenciou fortemente por muito tempo a formação dos professores e orientou a proposta pedagógica da educação básica, uma vez que predomina no processo educativo a idéia de que o aluno aprendia através da transmissão mecânica de conhecimentos.
No auge da Escola Nova, o ensino de Arte se renova no sentido de que o aluno agora precisa aprender por meio da experiência, colocando-se em ênfase à livre expressão do aluno. Entretanto, esse ensino também é alvo de críticas, pois o ensino se caracterizava por um laissez-faire, onde o aluno criava o que queria, sem ter um compromisso com o produto final desta produção; o importante era a auto-expressão, o processo de trabalho, o produzir trabalhos sem regras.
“Alguns acontecimentos e movimentos artísticos e culturais contribuíram para o desenvolvimento do ensino de Arte no Brasil no século XX, seja na educação formal ou na informal (museus, centros culturais, etc.). Com a ruptura dos conceitos tradicionais da arte, os ideais modernistas do início do século XX permitiram uma maior liberdade de expressão de sentimentos e idéias dos artistas. Como reflexo, na educação escolar em arte pôde-se perceber o mesmo movimento, com o abandono de um ensino voltado para a cópia e o desenvolvimento de uma postura de maior aceitação e valorização da criação, da experimentação do aluno em seus trabalhos artísticos e a conseqüente contestação do ensino de arte que não permitisse a expressão autêntica, espontânea e desinteressada da criança” (Barbosa apud Valente, 1993, p. 60).
É sob a influência da Escola Nova que surge no Brasil a “Escolinha de Arte do Brasil”, em 1948, fundada por Augusto Rodrigues e tinha como pressuposto pedagógico enfocar o aluno no atelier, privilegiando o trabalho livre e o professor através do Curso Intensivo de Arte na Educação, que visava formar educadores com um enfoque nas potencialidades “emotivas e expressivas das linguagens artísticas, fazendo-o pensar e repensar em Arte e educação, no contexto cultural” (Varela, apud Valente, 1993, p.20). Nesta época, não havia cursos de Arte nas universidades, apenas cursos de preparação de professores de desenho geométrico.
Com o lema de estimular a criatividade por meio do trabalho livre do aluno, o ensino de Arte caiu num modismo pedagógico frustrante. O ensino dos conteúdos de Artes decaiu em desuso, fazendo surgir à idéia de que a disciplina Artes era menos “importante” no programa curricular. Entre os professores parecia reinar a idéia de que Arte não precisa ser ensinada; que devemos valorizar apenas a expressão do aluno.
Concomitante a influência do escolanovismo, difunde-se no Brasil o movimento de “Educação pela Arte”, influenciado pelas idéias do filósofo inglês Herbert Read, cuja proposta buscava a formação global do ser humano, e tinha a Arte como o processo da educação, e não apenas como uma de suas metas.
Entretanto, a influência de Read na educação escolar será limitada. Predomina na Escolinha de Arte a visão do ensino de Arte como terapia, como liberdade de expressão, como produção de trabalhos e como desenvolvimento da criatividade. Mas não há uma preocupação nítida com o aprendizado de conhecimentos das linguagens artísticas. A aula de artes era concebida apenas como requisito de auto-expressão do aluno, sendo que produção feita por um aluno era considerada de qualidade, porque era uma forma de expressão dele, e o professor não deveria interferir.
Em torno das décadas de 1960/70 surge o movimento da pedagogia tecnicista, preocupada com a formação da mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho, deixando em segundo lugar a formação humanista. Nesse contexto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n.º 5.692/71, implanta a Educação Artística na escola de 1º e 2º graus.
Quanto à obrigatoriedade da Educação Artística, Fusari & Ferraz, (1993) identificam a preocupação com a “expressividade individual, com técnicas, mostrando-se, por outro lado, insuficiente no aprofundamento do conhecimento da arte, de sua história e das linguagens artísticas propriamente ditas” (p. 39). De fato, sob o rol do tecnicismo o ensino de Arte tinha como fundamento a aprendizagem de técnicas em aulas de artesanato, artes manuais, oficina de madeira, entre outras, desvinculadas da realidade social.
Em meio a esse contexto, ganham expressividade as idéias da Pedagogia Libertadora, que tem como fundamento o trabalho de Paulo Freire, cuja proposta é a uma educação problematizadora que forme o cidadão crítico. O alicerce dessa proposta encontra-se na valorização do saber popular, e sua manifestação no ensino da Arte ocorre mediante a valorização da cultural e da produção artística da comunidade.
No início dos anos 80 desponta a tendência histórico-crítico, que fomenta uma crítica contra a escola enquanto instituição reprodutora de desigualdades. A repercussão dessa tendência é a proposta de uma pedagogia centrada no desenvolvimento de atividades que permitam o conhecimento acumulado ao longo do processo histórico-social pela humanidade.
Desprende-se desse movimento a preocupação com um ensino de Arte mais contextualizado para o aluno. Barbosa (1999, p. 99) comenta que o aspecto dessa tendência é a questão de que não se considera mais o estudo da arte independentemente da escolarização. “Ao contrário, a arte é considerada como disciplina básica do currículo”. Tomando como referência Ernest Boyer, acrescenta o autor que:
“As artes são um aparte essencial da experiência humana. Não são uma frivolidade. Recomendamos que todos os estudantes estudem as artes para descobrir como os seres humanos usam símbolos não verbais e se comunicam não apenas com palavras mas através da música, dança e das artes visuais” (Barbosa 1999, p. 99).
Em suma, diante das tendências pedagógicas da corrente progressistas de contextualização e de interdisciplinaridade fundamentadas na pedagogia renovada (Libâneo, 1986), torna-se indispensável reconhecer como o ensino da arte propicia ao aluno elementos de reflexão e compreensão da realidade, de comunicação, de pesquisa e experimentação prática na construção de conhecimentos, de formação de atitudes, valores e comportamento bem como serve para o enriquecimento da formação cultural do aluno.
Na verdade, pelas diretrizes da pedagogia renovada o que o professor tem a fazer é colocar o aluno em condições propícias, para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo, conhecimentos e experiências. A idéia é a de que o aluno aprende melhor o que faz por si próprio. Para tanto, a tendência progressista libertadora, alicerçada principalmente nas idéias de Paulo Freire, seria um excelente caminho a se tomar para que o ensino da arte ganhe novas concepções na escola pública, tendo em vista, sobretudo o diálogo como elemento chave no ato de conhecer e o aprendizado como ato de conhecimento da realidade concreto, isto é, da situação real vivida pelo educando.
A promulgação da Constituição em 1988 tornou necessária a elaboração de nova Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional. A nova LDB - Lei 9.394/96, também denominada Lei Darcy Ribeiro, manteve a obrigatoriedade da Arte na educação básica:
“O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (artigo 26, § 2°).
A questão da obrigatoriedade do ensino da Arte deveria fundamentar a valorização das aulas de artes na formação integral do educando. Dentro da escola, segundo os Anais da UNICSUL (1995), a desvalorização da Arte é expressa como “certo preconceito contra Educação Artística e o professor da área”, o que acarreta marginalização desse professor e condena a Arte a papel de mero apêndice pedagógico.
Um dos motivos que explica esse quadro é a formação do professor de Arte. Ora, até a década de 70 não haviam cursos de formação de professores de Arte nas universidades brasileiras. Somente, em 1973, com a obrigatoriedade imposta pela LDB n° 5692/71 é que o governo sente a necessidade de criar um curso de graduação em Educação Artística, cuja modalidade em Licenciatura Curta, com duração de apenas dois anos, permitiu aos graduados lecionar no 1°Grau, atualmente denominado Ensino Fundamental.
Almeida (1992), ao pesquisar as instituições de ensino superior em Educação Artística, aponta como um dos fatores responsáveis por esta deficiência, falando especificamente na formação inicial, a falta de clareza por parte dessas instituições sobre a concepção de Educação Artística.
Com os problemas derivados da formação do professor, por conseqüência, predomina nas escolas uma concepção deturpada do ensino da Arte. Diante da necessidade de melhorar a qualidade do ensino de Arte, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são implantados na década de 1990 com o propósito de orientar novas diretrizes para o processo pedagógico da educação básica e, por conseqüência, repercute em inovações na concepção e função do ensino da Arte na escola. Nesse sentido, Reis (2001) salienta que:
“Em vigor desde 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais da área Arte tiveram a virtude de trazer para o primeiro plano do cenário educacional uma antiga reivindicação que clamava pela presença regular da arte no currículo escolar. Desde então, com maior ou menor intensidade, mais ou menos aplicação e vontade, mais ou menos disponibilidade e condições efetivas de colocar em prática a educação estética no cotidiano da criança e do jovem, as escolas vêm se adaptando à nova orientação”.
O fundamento básico dos PCN é um ensino de Arte orientado em três eixos: produzir, apreciar e contextualizar. Na visão proposta nestes referenciais, aprender arte é um processo que:
“[...] envolve não apenas uma atividade de produção artística pelos alunos, mas também a conquista da significação do que fazem, pelo desenvolvimento da percepção estética, alimentada pelo contato com o fenômeno artístico visto como objeto de cultura através da história e como conjunto organizado de relações formais...Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo”. (MEC/SEF, 1998 p.44)
Em todos os ciclos da educação fundamental, os PCN dão à área de Arte uma grande abrangência, propondo quatro modalidades artísticas: Artes Visuais; Música; Teatro; Dança. O caráter abrangente coloca em questão a prática pedagógica na escola, uma vez que os PCN não apresentam explicitam claramente a forma de encaminhar concretamente o trabalho com as diversas linguagens artísticas. Por conseqüência, os professores se indagam constantemente sobre a forma de como realizar, na sala de aula, a proposta dos PCN para Arte, com suas quatro modalidades artísticas?
Não se pode deixar de enfatizar que o PCN sinaliza uma redefinição do ensino da Arte, mas é preciso que suas diretrizes sejam implantadas de forma efetiva no contexto imediato da prática escolar. Dessa forma, a renovação da prática pedagógica no tocante ao ensino da Arte precisa se pautar num esforço coletivo dos professores compreender a função que essa disciplina apresenta no desenvolvimento do educando. Para tanto, faz-se necessário que os mecanismos de formação dos professores propiciem a sensibilização quanto à importância do trabalho de Arte como possibilidade para que todos os educandos possam estudar as artes para descobrir como os seres humanos usam símbolos não verbais e se comunicam não apenas com palavras mas através da música, dança e das artes visuais.
Nas palavras de Barbosa (1999, p. 99):
“[...] não basta dizer que a arte deve ser estudada como assunto específico no currículo escolar sem mencionar mais especificamente o que significa buscar a excelência desse ensino. A meta geral do ensino da arte é o desenvolvimento da disposição de apreciar obras de arte, onde a excelência da arte implica dois fatores: a extrema capacidade que têm os trabalhos de arte de intensificar e ampliar o âmbito do conhecimento e experiência humanos e as qualidades peculiares de trabalhos artísticos dos quais resulta tal capacidade. Ou, de forma mais resumida, a meta desse ensino é desenvolver nos jovens a disposição de apreciar a excelência nas artes em função da experiência maior que a arte é capaz de proporcionar”.
O fator primordial que precisa ser revisto na escola é a própria concepção que os professores apresentam quanto ao ensino de Arte. Faz-se necessário que a disciplina Arte apresenta um status tão importante quanto os componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática, isto porque, o ensino da Arte é importante para a construção do conhecimento e para o desenvolvimento do aluno como um todo, pois prioriza os aspectos afetivo e estético, importantes para a formação do ser humano que pensa, age, sente e se relaciona, contribuindo para transformações sociais e culturais.
Tendo em vista essa perspectiva, Lowenfeld & Brittain (1977) destacam a importância de desenvolver a consciência estética no ensino da Arte, o que implica:
“...educar a sensibilidade de uma pessoa para experiências perceptivas, intelectuais e emocionais, de modo que estas fiquem profundamente arraigadas, bem integradas, num todo harmoniosamente organizado” (p. 370).
O ensino da Arte precisa, com efeito, enfocar o conhecimento da Arte produzida pela humanidade bem como criar possibilidades para os alunos construírem suas produções artísticas, consolidando uma formação artística, estética e cultural significativa para os alunos. O papel educativo desempenhado pelas atividades artísticas implica, portanto, em pensar uma prática psicopedagógica criadora, interdisciplinar e espontânea. O ensino da arte não deve servir apenas para transmitir conteúdos, ao contrário, ele é em si uma atividade gratuita e desafiante que leva a criança à participação ativa e à tomada de decisões.
Acredita-se que através da arte é possível intervir no processo de desenvolvimento infantil. Quando a criança participa de atividades artísticas ela experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades, além disso, a arte também representa a possibilidade de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção.
Ao brincar através da arte a criança constrói-se como ser único e criativo e por este motivo torna-se indispensável que educadores reconsiderem o papel fundamental das atividades artísticas como fontes estimuladoras de desenvolvimento cognitivo e de atitudes morais, além de oportunizar espaços para a criatividade, a expressão e a integração social.
As atividades artísticas também contribuem para apurar a percepção do mundo exterior. A dança, o desenho, o teatro possibilitam que a criança estabeleça vínculos sociais com seus semelhantes, permitindo a descoberta de sua personalidade, e levando-a a aprender a viver em sociedade e se preparar para as funções que assumirá na idade adulta.
“As atividades artísticas fazem parte do grupo maior de atividades lúdicas, e como tais encontram as crianças na arte, como no jogo espontâneo, todos os elementos necessários ao seu crescer psíquico. Brincando de experimentar as mais variadas situações de vida antes de enfrentá-las na realidade, também na dramatização, sua imaginação vai explorar, através de personagens familiares ou não; na dança e música, em que as melodias e ritmos podem acompanhar e traduzir todas as nuances de uma alegria ou infelicidade nunca vividos ainda; nos grandes borrões de tinta vermelha ou na pálida camada do céu azul, saberá a criança dar curso à vida afetiva de tão grande significação na formação do indivíduo” (MEC/INEP, 1980 p. 20).
Deste modo, a arte é para a criança uma atividade desafiante, motivante, eficaz à participação ativa, à tomada de decisões e, sobretudo, é um procedimento educativo indispensável para o seu processo de formação.
O importante é ressaltar a importância do valor psicopedagógico da arte na valorização da criatividade, da espontaneidade, do desenvolvimento cognitivo, da formação da personalidade, que são forças ativas no universo infantil, que muitas vezes são bloqueadas pelo ambiente escolar, familiar ou social. Para tanto, é preciso reintegrar as possíveis contribuições do ensino da arte no âmbito psicopedagógico a fim de promover a aquisição do conhecimento e das habilidades requeridas no processo de ensino-aprendizagem de uma forma mais prazerosa e significativa para a criança.
As atividades artísticas têm, com efeito, um objetivo-significado concreto na formação da criança e que, simultaneamente, asseguram a aquisição de novos conhecimentos e a vivência de experiências significativas para o desenvolvimento de suas habilidades físicas, cognitivas, afetivas e sociais. Por isso, o objetivo primordial do ensino da arte é atender as necessidades psicossociais da criança, criar condições adequadas para o seu desenvolvimento global – estimular a criatividade, a autonomia, a cooperação e a criticidade – considerando, para isto, o ritmo de cada um e suas experiências de vida.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional renova a proposta pedagógica quanto à formação infantil, salientando a importância de oferecer as crianças um desenvolvimento integral. Essa questão fica expressa no art. 29 da Lei nº 9.394/96, que versa:
“A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, pedagógico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.
No campo educacional a arte apresenta grande importância pela sua contribuição no processo de formação da criança. O educador através das atividades artísticas pode despertar o interesse para uma aprendizagem; fixar uma noção já vista em sala de aula e vivenciar o conteúdo programático de forma lúdica.
Nesse sentido, o professor tem por objetivo desenvolver a compreensão do ensino da arte para ajudar às crianças em um meio lúdico-educativo que favoreça as experiências corporais múltiplas e variadas, as vivências simbólicas e a comunicação e assegure o direito ao espaço lúdico da infância. O trabalho com a arte no universo infantil viabiliza experiências para que a criança consiga ser ela mesma, manifestar sua afetividade e agressividade e, conseqüentemente, expressar seus sentimentos, adquirindo personalidade coesa e segura. Tudo isso configura, com efeito, a necessidade de (re)valorizar as atividades artísticas no desenvolvimento das crianças tanto dentro como fora da escola.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001) para a área de Educação Infantil enfatizam que a qualidade das experiências educativas oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania devem estar embasadas nos seguintes princípios educativos:
“o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas, etc.;
o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil;
o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, aos afetos, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética;
a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma;
o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade” (MEC, 2001: 30).
Não se pode deixar de destacar que através das atividades artísticas a criança pode também se tornar agente do seu próprio conhecimento e tomar atitude ativa frente aos desafios. O desenho, a música, a dança, o teatro são atividades que fazem com que a criança procure participar, construir conceitos e significados bem como gera espontaneamente uma integração social muito importante a formação de sua personalidade.
É imprescindível garantir as crianças à oportunidade de aprender a brincar, a jogar, criando e recriando dentro do universo lúdico, possibilidades de integração social, construindo conhecimentos, competências e habilidades necessárias a formação de sua identidade pessoal a partir dos valores que lhe garantirá o exercício pleno da cidade: dignidade, respeito mútuo, solidariedade, ética, cidadania, democracia, co-responsabilidade, entre outros.
“Há necessidade do ensino sistemático e intencional destes saberes – eles, porém, no período da educação infantil, deverão ser viabilizados ao ritmo do psiquismo infantil, com a alegria da descoberta, da surpresa, do espanto, do encanto, do belo, do novo, do prático; do tateio, do cooperativo, do original no coletivo, do lúdico, do plástico, do harmonioso/desamornioso, do surpreendente mundo autenticamente humano” (Redin, 1998:50).
Deste modo, faz-se necessário uma proposta de valorização da arte no âmbito familiar, escolar e social em que vive a criança de modo a viabilizar a construção de experiências propícias à promoção de atividades essencialmente lúdicas, incluindo-as em situações vivenciadas em aula a fim de permitir a criança uma interação maior com o mundo social e cultural bem como desenvolver a atenção e sua linguagem corporal por uma dimensão afetiva significativa para ela.
Nessa perspectiva, registra-se a relevância das atividades artísticas na vida da criança, porque elas reproduzem diversas situações sociais através do movimento, das trocas interpessoais, da descoberta do “eu” e do outro, da imitação e invenção no trabalho coletivo etc., as quais auxiliam significativamente na elaboração e construção de conhecimentos sistematizados.
Importa visualizar a arte como uma prática social, atividade simbólica, forma de interação e criação, que possibilita à criança desenvolver sua coordenação percepto-motora e vida afetiva; dominar as habilidades de comunicação; socializar-se e construir sua identidade pessoal. A dimensão lúdica precisa, conseqüentemente, ser revigorada no cotidiano da criança, levando-a a construir, descobrir, brincar, perceber e atuar nas situações prazerosas e psicopedagógicas proporcionadas pela prática educativa com atividades artísticas.
“Acreditamos que o conhecimento é construído pela criança num complexo indissociável de interação com o meio físico e social, promovido pela ação. Sujeito de seu processo, ela constrói por si própria valores e regras. Dessa forma, respeitamos o seu desenvolvimento, o seu processo de construção do conhecimento. No dia-a-dia, para que se dêem as interações da criança com o mundo físico e social, é necessário que se oportunizem situações para a tomada de decisões, escolhas e intercâmbio dos pontos de vista, promovendo a manifestação da autonomia, da cooperação, tão importantes na formação do cidadão” (Rodrigues e Amodeo, 1995:9).
Como a arte pode viabilizar uma forma de percepção e atuação no mundo, é imprescindível delimitar o trabalho do desenho, da dança, da pintura, do teatro a partir da organização de atividades significativas e prazerosas, criativas, críticas e inovadoras, possibilitando a criança ter uma participação ativa na exploração de suas próprias capacidades e contribuindo para a construção de valores sociais e morais – lealdade, espírito de grupo, liderança, respeito, colaboração e autonomia – que ajudam na descoberta do “eu” e do outro por meio da integração social no meio em que vive.
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que o ensino da arte deve favorecer o desenvolvimento integral de todas as crianças, proporcionando-lhes condições para aprender a viver e a ser. Ou seja, o pressuposto de partida para trabalhar a dimensão lúdica no universo infantil apóia-se na diretriz psicopedagógica que tem a atividade artística como instrumento necessário ao desenvolvimento afetivo, social e cognitivo das crianças, procurando utilizá-lo no cotidiano familiar e escolar com o objetivo de organizar espaços privilegiados para a expressão por meio da dança, da música, do teatro, do desenho, da pintura.
Ao despertar a curiosidade, exercitar a inteligência e a capacidade motora da criança, a atividade lúdica está desempenhando uma função educativa sobre as aptidões biológicas, psicológicas e sociais características na infância e pré-adolescência. Assim, para que as atividades artísticas influam positiva e prazerosamente no desenvolvimento infantil é preciso que a sua dimensão lúdica ganhe relevância diante das múltiplas necessidades da criança.
“A criança que brinca está desenvolvendo-se e, nesse processo de construção e reconstrução, as especificidades e singularidades de cada um estão presentes. É brincando que releva seus medos, alegrias, angústias, conflitos, busca entender-se e ao mesmo tempo entender a realidade social e cultural. Expressa no brincar aquilo que tem dificuldades de colocar em palavras. Na ação do brincar a criança investe toda a sua história pessoal de vida até então construída, quando brinca de bonecas, mame e papai, médico, professora, faz bolos e castelos de areia. Cria brinquedos e momentos para brincar com coisas simples do seu dia-a-dia: pedrinhas, vassoura, panos, roupas, restos de madeira... Assim, o brincar não significa simplesmente divertir-se, isso porque é a maneira mais completa com que a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, produzindo conhecimento” (Heinkel, 2000:66-67).
Evidentemente, aquilo que se diz sobre a essência do brincar é válido para a atividade artística e sua influência no desenvolvimento de todas as outras capacidades infantis: físico-motora, mental, emocional, cognitiva e social. O caráter lúdico do ensino da arte não significa apenas recreação, dele depende a qualidade do desenvolvimento biopsicossocial e pedagógico da criança.
Nesse sentido, o ensino da arte tem seu valor como atividade intelectual, moral, afetiva e social. Através da arte a criança pode desenvolver o corpo e sua coordenação percepto-motora; formar sua capacidade de apreensão e compreensão do mundo, do ambiente, dos fatos e das pessoas; aprender inúmeras qualidades morais necessárias ao desenvolvimento afetivo e social: sentimentos e atitudes de solidariedade, cooperação, amizade, aceitação, respeito, liderança e participação.
Enfim, a atividade artística abrange diferentes áreas – psicofísica, sócio-emocional, psicossocial, psicomotora, psicopedagógica etc. – de tal modo que viabiliza o desenvolvimento infantil pleno. Em termos simplificados, o ensino da arte representa uma dimensão humana indispensável à formação infantil justamente porque inclui a possibilidade da criança vivenciar situações prazerosas e ao mesmo tempo potencializadoras de habilidades morais e cognitivas indispensáveis à formação de cidadãos críticos, responsáveis e capacitados para participar da vida social.
A valorização do ensino da Arte no âmbito escolar, promove na criança esse processo de aprendizagem que faz com que através de brincadeiras a criança desenvolva o entrosamento com a turma, oferecendo-lhe subsídios para vencer dificuldades que apresentam, reforçando a auto-estima, respeitando a individualidade e as limitações.
É fundamental tomar consciência de que a atividade artística fornece informações elementares a respeito da criança: suas emoções, a forma como interagem com seus colegas, seu desempenho físico-motor, seu estágio de desenvolvimento, seu nível lingüístico, sua formação moral. A aprendizagem da criança só terá bom desempenho, entretanto, se estiver acompanhada de uma proposta educativa coerente.
Portanto, faz parte do ser humano à necessidade de contar histórias, narrar fatos e acontecimentos, daí a importância do teatro. O teatro, dessa forma sempre se constitui como meio de compreender a realidade de que vivemos e de transcender seus limites. É um jogo de construção que promove o desenvolvimento da criatividade, abre possibilidades de compartilhar descobertas, idéias, sentimentos e atitudes. Não se pode perder de vista que a prática teatral está ligada às tradições da época e da cultura da qual foi criada.
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