Com a intensificação do uso das tecnologias na sociedade moderna não é de se estranhar que a informática esteja cada vez mais presente no cenário educativo. A introdução das ferramentas tecnológicas no processo educativo tem lançado alguns questionados e desafios para os profissionais de educação. Até que ponto a introdução das tecnologias na educação beneficia a formação integral do cidadão?
Como toda mudança gera incerteza, com a educação digital não é diferente. Há aqueles que apóiam e investem no uso das novas tecnologias na prática educativa como uma possibilidade de enriquecer o processo de ensino-aprendizagem e favorecer a formação plena do cidadão.
A finalidade deste estudo é discorrer alguns apontamentos sobre a educação digital, destacando as implicações positivas e negativas do uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, é relevante descrever brevemente o histórico da informática na educação e como as novas tecnologias podem ser usadas dentro da sala de aula para inovar e melhorar o processo educativo.
No Brasil, os primórdios de uma educação digital surgiram com uma iniciativa do Ministério da Educação que buscou disseminar a informação no sistema brasileiro de educação pública.
Inicialmente, o MEC patrocinou o Projeto Educom (1985-1991), destinado ao desenvolvimento de pesquisas e metodologias sobre o uso do computador como recurso pedagógico, do qual participavam quatro universidades públicas: Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro – URFJ, e Universidade Federal do Rio Grande do Sul – URFGS (ALMEIDA, 2000, p. 139).
Além disso, o MEC também adotou uma política que tinha por objetivo implantar em cada estado brasileiro um Centro de Informática na Educação – Cied. Na tentativa de subsidiar o funcionamento desses centros, o MEC criou o Projeto Formar, visando preparar professores para utilizar a informática na educação (ALMEIDA, 2000).
O Projeto Formar desenvolveu-se na Unicamp, por meio da realização de dois cursos de especialização na área de informática na Educação, um em 1987 e outro em 1989. Participaram profissionais de todo o Brasil, e cada turma contou com cinqüenta participantes, o que exigiu grande esforço dos organizadores e concentração de recursos (físicos, humanos, financeiros e de equipamentos), pois na época nenhuma instituição tinha disponibilidade para atender aquela demanda (ALMEIDA, 2000, p. 139-140).
Os professores que participaram do projeto Formar foram os pioneiros em estruturar e implantar os CIED (Centros de Informática Educativa) junto às Secretarias de Educação às quais pertenciam. Assim, nos anos de 1988 e 1989 foram implantados 17 CIED e em 1997 havia 20 nos Estados brasileiros (TAVARES, 2008).
Outro projeto-piloto que atuou na formação de professores foi o PRONINFE, instituído pelo MEC em 1989. Segundo Tavares (2008):
O PRONINFE possuía um modelo funcional e geograficamente descentralizado, funcionando através de centros de informática na educação espalhados por todo o país. Esses centros contavam com apoio mútuo, divulgando e analisando projetos educacionais, seus objetivos e resultados. Outro ponto forte do PRONINFE era a formação de professores dos três graus (hoje fundamental, médio e superior), bem como na área de educação especial e em nível de pós-graduação. Também visava a pesquisa sobre a utilização da informática na educação, aproveitando a interatividade e a interconectividade que o computador possibilitava (p. 6).
Em 1997 surge uma versão atualizada do projeto PRONINFE: o PROINFO, cuja proposta se pauta no sentido de introduzir a informática na rede pública de ensino por meio de redes técnicas de produção, armazenamento e transmissão de informações. De acordo com as diretrizes do Documento referente ao PROINFO, os objetivos deste programa visam:
1) melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas, através da igualdade no acesso instrumentos tecnológicos e desenvolvimento de atividades apropriadas de aprendizagem partindo da realidade regional. Busca-se a melhoria do processo de construção do conhecimento, através da diversificação dos espaços do conhecimento, dos processos e das metodologias empregadas;
2) possibilitar a criação de uma nova ecologia cognitiva nos ambientes escolares mediante incorporação adequada das novas tecnologias da informação pelas escolas, diminuindo o espaço existente entre a cultura escolar e a cultura extra-escolar;
3) propiciar uma educação voltada para o desenvolvimento científico e tecnológico, para a criatividade, a agilidade na resolução de problemas, o raciocínio, o manejo da tecnologia e para um maior conhecimento técnico por parte do educando;
4) educar para uma cidadania global numa sociedade tecnologicamente desenvolvida .
Levando em consideração tais propostas, torna-se salutar indagar: Até que ponto a introdução das tecnologias na educação beneficia a formação integral do cidadão?
Para responder esse questionamento é importante primeiramente destacar que a escola precisa assumir o papel de formar cidadãos para a complexidade do mundo e dos desafios que ele propõe. Assim, é importante que na escola o aluno tenha condições de não só fazer uso das tecnologias de informação como também lidar criticamente com elas em seu processo de formação.
Vale destacar que o uso da informação na educação traz benefícios para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem na medida em que permite uma perspectiva de formação integral, onde o recurso tecnológico não é apenas um instrumento de motivação, mas de construção do conhecimento, de aprendizagem.
Dentre as vantagens que o uso da informática pode apresenta para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, pode-se destacar:
• O apelo visual do computador enquanto recurso didático;
• A possibilidade de interação através do uso de software e da Internet;
• O uso de ferramentas versáteis disponíveis em sites e que podem ser usadas no processo de construção do conhecimento;
• A ampliação das possibilidades de mediação pedagógica do professor;
Em contrapartida, é preciso atentar também para o fato de que existem fatores de resistência ao uso da informática na educação. Dentre eles, destaca-se o equívoco que o uso do computador poderia colocar em xeque a profissionalização do professor.
Outros questionamentos também se despontam no debate sobre o uso da informática na educação: Até que ponto as nossas escolas estão preparadas para utilizar plenamente os recursos computacionais? Os professores estão devidamente capacitados para usar os recursos tecnológicos no processo de ensino-aprendizagem?
Frente ao exposto, acredita-se que o uso da informática pode contribuir para a melhoria da educação como um todo. Mas para que isso aconteça é preciso rever conceitos, modelos didáticos e formas de relacionamento inerentes ao processo de ensino-aprendizagem.
O que é necessário, então, fazer para que o uso da informática dê certo? Na visão do pedagogo Wagner Antônio Júnior, coordenador do Projeto de Apoio Informatizado da Faculdade de Agudos/SP, “a tecnologia deve ser utilizada para apresentar e aprofundar conteúdos curriculares. Usar o computador somente para ensinar programas de informática é desperdício” (MARTINS, 2008, p. 84).
O uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem não deve se restringir ao objetivo de tão-somente dar aulas de informática ou de levar o aluno a conhecer diferentes recursos tecnológicos. O intuito é melhorar o aprendizado é para isso é preciso escolher adequadamente os conteúdos a serem apresentados ou apresentados na sala e informática, tornando a aula produtiva e objetiva (MARTINS, 2008, p. 85).
Outro aspecto importante é quanto à seleção dos programas a serem utilizados. O uso do computador pode possibilitar tanto o acesso a rede eletrônica de informações – a Internet – como também pode permitir o uso dos programas para editar textos, resolver situações-problemas em planilhas, etc.
Segundo, José Júnio Lopes, Coordenador do Laboratório de Informática do Colégio Joana D’Arc – São Paulo, “a Internet nem sempre é imprescindível. O aluno pode fazer apresentações em slides, usar editores de textos e elaborar planilhas e gráficos. Essas ferramentas não requerem o uso da Internet” (MARTINS, 2008, p. 84).
O roteiro da aula também é importante. Atividades precisam ser bem estruturadas e planejadas de acordo com a realidade do aluno. Além disso, o uso dos recursos tecnológicos deve coincidir com incentivo à interação. É o professor o responsável pela mediação da interação do aluno com o objeto do conhecimento no processo de ensino-aprendizagem.
Mostra-se também relevante o uso de jogos educativos; a exploração adequado do audiovisual; a orientação adequada para evitar a desatenção e a criação do aluno bem como criar um espaço lúdico na sala de aula.
Segundo a professora Léa da Cruz Fagundes, presidenta da Fundação Pensamento Digital, de Porto Alegre:
o caminho mais curto e eficaz para introduzir nossas escolas no mundo conectado passa pela curiosidade, pelo intercâmbio de idéias e pela cooperação mútua entre todos os agentes envolvidos no processo. Sem receitas preestabelecidas e os ranços da velha estrutura hierárquica que rege as relações entre professores e estudantes (ALENCAR, 2004, p. 24).
A referida especialista afirma também que o professor não deve ter medo de errar e nem vergonha de dizer não sei quanto estiver a frente de um micro. O professor só vai descobrir como usar o computador na sua rotina diária quando se deixar conduzir pela curiosidade, pelo prazer de inventar e de explorar as novidades, como fazem as crianças (ALENCAR, 2004, p.24).
Fazer da informática um recurso de aprendizagem não é uma tarefa utópica. Requer desprendimento e compromisso não só do professor, mas da parceria entre escolas, governo e instituições públicas e/ou privadas. A comprovação disso é que algumas experiências estão sendo bem-sucedidas, dentre elas destaca-se:
• Word Links – Programa criado originalmente pelo Banco Mundial. É uma ONG que atua desde 2002 em 26 países, incluindo o Brasil. Visa a criação de comunidades de aprendizagem interativa, colaborativa e cooperativa, mediante o uso das telecomunicações na escola.
• Projeto Infovias/Educação – iniciado em 2000 como pesquisa da Faculdade de Educação da UFG. O objetivo inicial era a introdução, para professores e alunos de graduação de pedagogia, no uso de tecnologias na educação.
• Cooperação Internacional no Distrito Federal – o Centro de Ensino Médio 02 e outras escolas do DF participam de um projeto com o Canadá, visando a disseminação de informações entre os dois países. O intercâmbio cultural possibilita superar as dificuldades de acesso e o baixo índice de computadores em redes disponíveis, realizando atividades educacionais inovadoras.
O crescimento de experiências bem sucedidas depende, portanto, da ação de novas abordagens pedagógicas, novos caminhos que acabem com o isolamento da escola e a coloquem em permanente situação de diálogo e cooperação com as demais instâncias existentes na sociedade, a começar pelos próprios alunos. O uso da informática na educação não deve se expandir apenas em termos quantitativos com a alocação de recursos nas escolas. Ao contrário, é preciso usar esses recursos como grandes possibilidades e desafios para a atividade cognitiva, afetiva e social dos alunos, fundamentado uma nova perspectiva de educação: educação para a vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, Marcelo. Podemos vencer a exclusão digital. Revista Nova Escola, Seção Fala Mestre!, nº 172, Fundação Victor Civita, mai/2004, p. 24-26.
ALMEIDA, Maria Elizabeth de. PROINFO: Informática e Formação de Professores. Vol. 1 e 2. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2000.
IBE. Instituto Brasileiro de Educação. Tecnologias da Educação. Brasília, 2008.
MARTINS, Ana Rita. O melhor do computador. Revista Nova Escola, Ano XXIII, Nº 215, set./2008, p. 84-85.
PROINFO. Disponível em http://www.proinfo.mec.gov.br. Acesso em out./2008.
TAVARES, Neide Rodrigues Barea. História da informática educação no Brasil observada a partir de três projetos públicos. Disponível em http://www.lapeq.fe.usp.br/textos/tics/pdf/neide.pdf. Acesso out./2008.
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